terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Presidenta, sim!

O Brasil ainda está longe da feminização da língua ocorrida em outros lugares.

     Dilma Rousseff adotou a forma “presidenta”, que assim seja chamada

     Se uma mulher e seu cachorro estão atravessando a rua e um motorista embriagado atinge essa senhora e seu cão, o que vamos encontrar no noticiário é o seguinte: “Mulher e cachorro são atropelados por motorista bêbado”. Não é impressionante? Basta um cachorro para fazer sumir a especificidade feminina de uma mulher e jogá-la dentro da forma supostamente “neutra” do masculino. Se alguém tem um filho e oito filhas, vai dizer que tem nove filhos. Quer dizer que a língua é machista? Não, a língua não é machista, porque a língua não existe: o que existe são falantes da língua, gente de carne e osso que determina os destinos do idioma. E como os destinos do idioma, e da sociedade, têm sido determinados desde a pré-história pelos homens, não admira que a marca desse predomínio masculino tenha sido inscrustada na gramática das línguas.

     Somente no século XX as mulheres puderam começar a lutar por seus direitos e a exigir, inclusive, que fossem adotadas formas novas em diferentes línguas para acabar com a discriminação multimilenar. Em francês, as profissões, que sempre tiveram forma exclusivamente masculina, passaram a ter seu correspondente feminino, principalmente no francês do Canadá, país incomparavelmente mais democrático e moderno do que a França. Em muitas sociedades desapareceu a distinção entre “senhorita” e “senhora”, já que nunca houve forma específica para o homem não casado, como se o casamento fosse o destino único e possível para todas as mulheres. É claro que isso não aconteceu em todo o mundo, e muitos judeus continuam hoje em dia a rezar a oração que diz “obrigado, Senhor, por eu não ter nascido mulher”.

     Agora que temos uma mulher na presidência da República, e não o tucano com cara de vampiro que se tornou o apóstolo da direita mais conservadora, vemos que o Brasil ainda está longe da feminização da língua ocorrida em outros lugares. Dilma Rousseff adotou a formapresidenta, oficializou essa forma em todas as instâncias do governo e deixou claro que é assim que deseja ser chamada. Mas o que faz a nossa “grande imprensa”? Por decisão própria, com raríssimas exceções, como CartaCapital, decide usar única e exclusivamentepresidente. E chovem as perguntas das pessoas que têm preguiça de abrir um dicionário ou uma boa gramática: é certo ou é errado? Os dicionários e as gramáticas trazem, preto no branco, a forma presidenta. Mas ainda que não trouxessem, ela estaria perfeitamente de acordo com as regras de formação de palavras da língua.

     Assim procederam os chilenos com a presidenta Bachelet, os nicaraguenses com a presidenta Violeta Chamorro, assim procedem os argentinos com a presidenta Cristina K. e os costarricenses com a presidenta Laura Chinchilla Miranda. Mas aqui no Brasil, a “grande mídia” se recusa terminantemente a reconhecer que uma mulher na presidência é um fato extraordinário e que, justamente por isso, merece ser designado por uma forma marcadamente distinta, que é presidenta. O bobo-alegre que desorienta a Folha de S.Paulo em questões de língua declarou que a forma presidenta ia causar “estranheza nos leitores”. Desde quando ele conhece a opinião de todos os leitores do jornal? E por que causaria estranheza aos leitores se aos eleitores não causou estranheza votar na presidenta?

     Como diria nosso herói Macunaíma: “Ai, que preguiça…” Mas de uma coisa eu tenho sérias desconfianças: se fosse uma candidata do PSDB que tivesse sido eleita e pedisse para ser chamada de presidenta, a nossa “grande mídia” conservadora decerto não hesitaria em atender a essa solicitação. Ou quem sabe até mesmo a candidata verde por fora e azul por dentro, defensora de tantas ideias retrógradas, seria agraciada com esse obséquio se o pedisse. Estranheza? Nenhuma, diante do que essa mesma imprensa fez durante a campanha. É a exasperação da mídia, umbilicalmente ligada às camadas dominantes, que tenta, nem que seja por um simples -e no lugar de um -a, continuar sua torpe missão de desinformação e distorção da opinião pública.

Marcos Bagno é professor de Linguística na Universidade de Brasília

Um falcão no comando do PT

Autor: Raymundo Costa - Valor Econômico - 20/12/2011

     Oficialmente, o PT deve insistir, em 2012, na criação de um marco regulatório da imprensa, projeto que se transformou em cavalo de batalha de seu presidente, o deputado estadual Rui Falcão (SP). Ele diz que "não se trata de controlar conteúdos, mas fazer valer o que está na Constituição". Falcão julga que há muito preconceito e desinformação sobre a bandeira assumida pelo PT.

     É uma resolução formal do partido com a qual o governo, até agora, tem evitado se comprometer. A proposta confeccionada ainda no governo Lula está guardada em alguma gaveta do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e não há indício de que ele esteja prestes a enviá-la ao Congresso. Falcão esperava que Bernardo comparecesse ao seminário que o PT realizou sobre o assunto. O ministro não foi e nem mandou representante.

     Era expectativa do PT, também, que o Ministério das Comunicações apresentasse o projeto para consulta pública até o início de dezembro. Isso também não aconteceu. Mas Franklin Martins, ex-ministro da Pasta, compareceu ao seminário petista e foi um dos palestrantes.

     É possível que Bernardo apenas não quisesse se associar a uma iniciativa que é vista como o passo inicial para o controle da imprensa. Mas a movimentação do presidente do PT deve ser acompanhada com atenção.

     Em pouco mais de um ano, Falcão se consolidou na presidência da sigla, embora não fizesse parte do antigo Campo Majoritário de Lula e José Dirceu.

     Ele também estabeleceu uma rotina na relação com Dilma. Antes era uma reunião mensal. "Agora foi acertado que, toda vez que houver uma necessidade, dela ou minha, a gente se comunica e acerta um horário", explica o deputado. "Eu não a procuro para pedir (cargos e verbas) e nem ela me procura para falar de coisas triviais", diz.

     Falcão e Dilma têm um relacionamento de cerca de 40 anos. A amizade sofreu algum abalo na campanha da presidente, quando ele e o atual ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) se desentenderam por conta da montagem de um suposto grupo de espionagem política no comitê eleitoral da candidata.

    Hoje, o próprio Falcão faz questão de acentuar que ele e Dilma mantêm "uma relação política de alto nível, respeito mútuo e confiança".

     O deputado paulista assumiu o comando do PT com o afastamento do ex-presidente José Eduardo Dutra, em abril último, por motivos de saúde. Em outras circunstâncias talvez o PT realizasse uma nova eleição, pois o cargo é de um integrante do grupo majoritário - Falcão era vice de Dutra. Para não agravar disputas domésticas o PT fez um acordo entre tendências e o vice assumiu a cadeira do titular.

     Desde então, Falcão viajou por todas as regiões do país visitando a militância petista. Equilibrando-se com habilidade entre as diversas correntes, consolidou-se. Prova disso são as manifestações do governador gaúcho Tarso Genro, que sempre foi um crítico do "paulicentrismo" petista e hoje afirma que a condução do PT ganhou um caráter nacional.

     Falcão não é do "grupo do Zé Dirceu", como se diz no PT. Mas também não seria um presidente tão à vontade no cargo, se não estabelecesse uma boa relação política com o ex-ministro. Provavelmente sente-se incomodado com as notícias segundo as quais é José Dirceu quem manda de fato no PT, mas prefere correr em sua defesa quando se insinua a presença do ex-chefe da Casa Civil em situações como a nomeação do novo presidente do BRB (Banco de Brasília). "É mentira", diz Falcão. "Tudo é Zé Dirceu na cabeça desse pessoal".

     É esse o contexto em que Rui Falcão se prepara para conduzir o PT na eleição municipal do próximo ano. Uma resolução do partido determina que o marco regulatório da imprensa deve ser assunto de campanha. É possível que o PT entre em 2012 com essa determinação. O difícil será manter o assunto quando a campanha for dominada pelos assuntos municipais que efetivamente definem as eleições

     "Queremos o que está na Constituição. Só. Não queremos mais nada, além disso. Os artigos 220, 221 e 222 da Constituição, que proíbem políticos de ter concessão e a propriedade cruzada, entre outras coisas".

     O que o PT quer - acentua Falcão - "é proteger o negócio de radiodifusão das teles, o pessoal não se informa, tem preconceito". Segundo Rui Falcão, o faturamento das teles (operadoras dos sistemas de telefonia), ano passado, "foi 13 vezes maior que o de todo o conjunto da radiodifusão do país". Ou seja, na opinião do presidente do PT trata-se de um gigante (na verdade, Falcão diz estar falando apenas das quatro grandes teles do país) que, se não tiver regulação, vai engolir o mercado da difusão no país. "O que vai funcionar é o mercado, e o mercado é cruel".

     "A regulação não é para a mídia impressa", diz Falcão. Segundo ele, essa é uma confusão deliberada feita por quem se opõe à criação do marco regulatório. "A mídia impressa não é concessão", explica. Mas é o mesmo Rui Falcão quem ressalva: "A mídia impressa a gente queria botar menos anúncio oficial e fazer com que ela (as empresas) paguem o papel pelo preço normal. Ele está subsidiado até hoje".

     Como a Lei de Imprensa, um entulho autoritário do regime militar de março de 1964, foi revogada por decisão do Supremo Tribunal Federal, o presidente do PT acha que alguma coisa deve ser colocada no lugar para assegurar o "direito de resposta". A legislação atual "é muito vaga", afirma. "Agora não pode haver nada prévio, esse negócio de impedir a divulgação de matéria não pode, tem que ser depois. Eu sou contra controlar conteúdos, a não ser nos meios eletrônicos naquilo que a Constituição dispõe - proteção à criança e ao adolescente, direitos humanos".

     "E porque no mundo todo tem agência reguladora e aqui não pode ter? EUA tem, a Europa toda tem. Na Europa, para cada hora de televisão você pode ter no máximo 12 minutos de propaganda. Aqui nós temos a TV paga com quase tanto anúncio quanto a TV aberta", diz.

     No momento em que ventos do cone sul sopram com ameaças à liberdade de expressão, não há pombas no PT, quando o assunto é regulação da imprensa.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

CARTA ABERTA AO GOVERNADOR AGNELO QUEIROZ - DF

CARTA ABERTA AO GOVERNADOR AGNELO QUEIROZ - DF

DO: FÓRUM DO DISTRITO FEDERAL E ENTORNO PELA REFORMA AGRÁRIA E JUSTIÇA NO CAMPO, CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES DO DISTRITO FEDERAL – CUT/DF e SECRETARIA AGRÁRIA DOP PT - DF

PARA: AGNELO QUEIROZ
MD.: GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL

C/C para: Paulo Tadeu - Secretário da Secretaria Geral de Governo e Francisco Machado - Coordenador da Coordenadoria das Cidades do GDF

ASSUNTO: ENCAMINHAMENTOS DE SOLUÇÃO PARA AS QUESTÕES AGRÁRIAS DO DF E ENTORNO – despejo de famílias de trabalhadores rurais sem terra da “Faz Quilombo”, área pública pertencente ao DF

NESTA

Senhor Governador,

     São graves os problemas que se abatem sobre o território rural do DF, em termo de ocupação e uso de suas terras, em especial as de domínio público. As diretrizes consignadas no Programa "Novo Caminho" e as resoluções aprovadas na Primeira Conferência sobre Desenvolvimento Rural Sustentável, organizada pela SEAGRI, que, entre outras coisas, apontam para o ordenamento da estrutura fundiária do DF objetivando o cumprimento da função social da propriedade da terra, infelizmente não vêm sendo observadas.

     Para além da falta de medidas que combatam a grilagem de terras públicas, que somente uma discriminatória administrativa seria capaz de aplacar, como agravante, chama-nos especial atenção , o fato de a citada Secretaria romper acordos celebrados com representações dos trabalhadores rurais do DF e Entorno, encaminhando, em meio as festas natalinas, pelo despejo de famílias de sem terra, ocupantes de áreas públicas pertencentes ao DF, as quais por determinação constitucional deveriam, prioritariamente, serem destinadas ao Programa de Reforma Agrária.

     O caso supra reporta-se as 48 famílias de sem terra, ocupantes da "Fazenda Quilombo", situada na região de São Sebastião, pertencentes ao Movimento dos Agricultores Sem Terra, - MAST , vinculado à FETADF, as quais foram despejadas hoje, não obstante o acordo celebrado com a SEAGRI para permanecerem na área, segundo informações, a qual deveria ser destinada ao INCRA para criação de um Projeto de Assentamento.

     Acrescente-se que a referida área já vinha sendo explorada com o plantio de milho e outras culturas, com estudos de solos e viabilidade econômica conclusos que permitem perfeitamente a estruturação de um Projeto de Assentamento em moldes sustentáveis. Por oportuno, cabe lembrar que a presente questão foi objeto de acerto da SEAGRI com a Ouvidoria Agrária Nacional, no sentido de garantir os direitos dos ocupantes da área e apresentar solução pacifica para o caso - subtende-se que este entendimento também foi desconsiderado.

     Ante o exposto, esta Secretaria Agrária, juntamente com as entidades do Fórum do DF e Entorno pela Reforma Agrária e Justiça no Campo, signatárias do presente, em fiel observância aos compromissos do PT, entre os quais se enquadram a reforma agrária e o apoio aos trabalhadores rurais sem terra que lutam pela sua execução, ao mesmo tempo em que apresenta seu veemente protesto ao alusivo ato , não condizente com o perfil de um Governo Democrático Popular, e, muito menos, com a práxis petista , solicita ao companheiro Governador o reexame da questão e a restituição da mencionada área às famílias despejadas, para o assentamento definitivo das mesmas, em projeto de reforma agrária a ser conduzido pelo INCRA, restabelecendo, com isto, o acordo preteritamente firmado e a relação de confiança com os trabalhadores.

No aguardo de resposta subscrevemo-nos

Brasília (DF), 19 de dezembro de 2011.

Assinam esta carta

Cleusa Maria Cassiano – CUT-DF; Vera Lúcia Martins Ramos - Coord.do Fórum do DFE p/RAJC; José Vaz Parente - Secretaria Agrária do PT/DF; Luiz Afonso Arantes - MST/DFE;Romildo José Machado – FETADFE; Francisco Miguel de Lucena – FETRAF/DFE; Gilberto Euripedes Gomes – MAST; Vicente de Almeida – SINPAF; Joaquim R. dos Santos Filho – CNASI; Eunício Alves Silva – MBST; Gaspar Martins de Araújo – MST; Ivanilde Maria de Jesus – UNIBRAS; Maria da Graça Amorim - FETRAF-Brasil/CUT; Silvio Menezes - Setorial do Meio Ambiente do PT/DF; Antônio Julio Nogueira da Silva – MATR; Modesto de Oliveira - SINTRAF-DF; Oton Pereira Neves – SINDSEP-DF; Acácio Zuninga Leite – ASSERA-BR; Rubens Martins – COTAE; Yuri Soares Franco - DCE – UnB; Eliane Maria F. dos Santos – MAST; Elizângela Araújo – SINPAF; Geraldo Francisco Coelho – PT-DF; Gerson Teixeira - Câmara Federal; Luiz Cláudio Mandela – CARITAS; Jaderson Barros dos Santos – MST; João Batista F. Freitas - STTR/FORMOSA; José Antônio N. de Assis – FETADFE; José Claudio Cardoso Leite – PT-DF; José Maria Alves Nunes – PT-DF; José Mario de Souza – MBST; Juruna Fº Alves de Souza – Pres. Ass. Agric. de Planaltina; Lúcia Marina Santos - MST/DFE; Luiz Moura – EKIPNATURAMA; Luiz Soares – SINPAF; Mayrá Lima – MAB; Mari Cristina de Araújo - PT/DF; Maria José (Zezé) - FETRAF-Brasil

Assinaturas em adesão ao documento do FÓRUM DO DISTRITO FEDERAL E ENTORNO PELA REFORMA AGRÁRIA E JUSTIÇA NO CAMPO, CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES DO DISTRITO FEDERAL – CUT/DF e SECRETARIA AGRÁRIA DOP PT - DF

Maria Cazé – MPA; Marina dos Santos – MST; Mirian Vaz Parente – SINDSEP-DF; Nicinha Porto – CONTAG; Olena Valente Rodrigues – MATR; Olieta Pereira Gomes – SINDSEP-DF; Paulo Viturino Barros – SINTRAF; Raimundo Edson Maia – PT-DF; Raimundo João Amorim Pereira – PT-DF; Rita de Cássia Cardoso Leite – Via Campesina; Ana Lima – Via Campesina; Sílvia Yuri – MAB; Silvio Santana – ESQUEL; Tereza de Alencar – SINDSEP-DF; Vanderli Ferreira Lopes – CONTAG; Vanderlino Félix da Silva - PA BARRA I; Vinicius Melo T. de Freitas - SINPAF/HORTALIÇAS; Wilson M. Brito – MTD;

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

CONFERENCIA NACIONAL DE POLITICAS PARA AS MULHERES

Uma Conferencia eficiente

*Terezinha Vicente - sábado 17 de dezembro de 2011

     Uma conferencia eficiente, do ponto de vista da aferição das demandas históricas das mulheres. Com foco principal na autonomia econômica e financeira da mulher, coerente com a estratégia adotada pelo governo Dilma, a plenária colocou as principais polêmicas e disputas em outros temas.

     Acontecem coisas muito diversas numa conferencia de mulheres, onde estão reunidas cerca de 3 mil delas (2.781 delegadas, mais 200 convidadas e as trabalhadoras do evento), vindas de um processo que envolveu em todo o país cerca de 200 mil mulheres. Elas se (re)encontram e comemoram, abraçam-se, dançam, cantam, batucam, fazem rodinhas de conversa, cirandas, recolhem assinaturas para as moções, compram, emocionam-se. Tudo isso, além da programação propriamente dita, plenárias, mesas redondas, conferencias, shows. Uma explosão de criatividade.

     A 3ª Conferencia de Políticas para as Mulheres, a primeira sob o governo Dilma, realizou-se sob uma tensão permanente, como disse a Ministra Iriny Lopes. Forte boataria, com a ajuda da grande mídia nacional, criou a principal tensão vivida nas semanas que antecederam esta conferência: a notícia de que as Secretarias Nacionais da Mulher e da Igualdade Racial seriam extintas. A presidenta Dilma fez questão de reafirmar a importância de sua existência e de comprometer-se com a sua manutenção em seu governo. "Diferente do que vem se falando, a secretaria não será extinta. Ela é fundamental como instrumento de governo para que a gente continue avançando na luta pela igualdade de gêneros", defendeu a presidenta.

     Outras tensões estiveram no ar o tempo todo, algumas geradas pela metodologia do encontro, outras por falhas e violências na prestação de serviços, outras criadas pelas próprias participantes da conferência. Estas últimas, as tensões internas, são as mesmas colocadas pela luta de classes no dia a dia, pois todos os segmentos sociais estão representados numa conferência, que pretende ser instrumento de democracia participativa para aferir demandas de todas as tribos. Preconceitos e discriminações "aparecem" no convívio, valores e modos de vida diferente se revelam, e às vezes surpreendem, práticas distantes dos discursos feministas mostram as contradições do nosso caminhar.

     Foi a participação política, a cumplicidade de gênero, a vivência da solidariedade, da visão coletiva, amorosa e igualitária a formar tantas feministas, valores que conduziram e ampliaram o movimento de mulheres no Brasil, conquistando espaços e políticas. Entretanto, o individualismo e a violência, propagandeados cotidianamente pelos meios de comunicação e por outras instituições, também contaminam as mulheres. Apareceram em várias situações, revelando o quanto a conscientização para o coletivo está distante da maioria da população. Aparecem também as mulheres guerreiras da vida inteira, lutadoras por justiça e liberdade em seus locais, e nunca notícia na mídia. O aprendizado intensivo foi permanente nesta conferência , pela programação extensa para tão poucas horas, pelas manifestações organizadas por segmentos da nossa diversidade.


Enfrentamento ao racismo e à lesbofobia

     A mudança de metodologia, priorizando o debate da autonomia econômica e financeira da mulher (todos os grupos no primeiro dia discutiram este tema), deixou apreensivas as mulheres que tem no eixo 9 do segundo PNPM (Plano Nacional de Políticas para as Mulheres) - Enfrentamento do racismo, sexismo e lesbofobia -, sua prioridade. A orientação dada foi de que todos os grupos incorporassem na sua discussão as dimensões de raça e etnia, orientação sexual e geracional e houve o painel 2, com lideranças representativas das lésbicas, indígenas e negras, mas não foi considerado suficiente na compreensão de todas as mulheres desses grupos. As mulheres com deficiência, não citadas formalmente nos eixos, nem colocadas nas mesas, unidas a estas, exigiam ter os segmentos incluidos no texto de cada proposta. Propostas para citar também indígenas, quilombolas, povos da floresta, populações ribeirinhas, do campo e da cidade... etc. Ainda bem que na plenária final, a resolução proposta pela metodologia tinha no início do texto esses princípios, nas "resoluções de caráter geral", ratificando a importância do eixo 9 e reconhecendo "a insuficiência da estratégia da transversalidade".

     A superação dos problemas enfrentados foi uma constante, a SPM agiu rapidamente em todos, mas só foi dado conhecimento para aqueles cujo inconformismo com as situações levou a denúncias e manifestações em plenária. Quase ao final do evento, a Ministra Iriny veio ao microfone para esclarecer as medidas tomadas frente a denúncias de racismo, que teria sido praticado por funcionários da empresa prestadora de serviços. As mulheres negras da plenária foram mobilizadas a ir na frente, encabeçadas pela mãe de Santo Rita de Cássia Maciel, de Minas Gerais, que disse ter acontecido aqui os tipos de agressão recorrentes contra o povo "de terreiro", e que uma delas teria sofrido inclusive violência física.

     "Dialogamos com a empresa", disse a Ministra Iriny, "no sentido de reafirmar que não toleramos e não convivemos com o racismo na sociedade, não conviveremos com o racismo na Conferência". As medidas adotadas foram procurar a Ouvidoria da SEPPIR, pelas denunciantes, e abrir Boletim de Ocorrência. A SPM colocou também sua Ouvidoria para acompanhar a questão. "Isso é natural para nós", falou Iriny, "é para isso que as ouvidorias foram constituídas, elas são uma conquista". Vários outros problemas aconteceram na "conferencia, que está sob tensão desde o seu início", segundo a Ministra, alguns dos quais obrigaram a SPM a se explicar e pedir desculpas. "Não houve omissão em nenhum deles, não perdemos a capacidade de dialogar e não compactuamos com o constrangimento a ninguém!"


"hotel de luxo, nao quero não a gente faz ocupação"

     No credenciamento, teve início a maior tensão de todas. Começou porque algumas delegações foram hospedadas em hotéis próximos ao Centro de Convenções Ulysses Guimarães, onde se realizou o evento, e outras estavam em hotéis mais simples e distantes ou alojamentos coletivos. Inclusive as maiores delegações, SP, MG, RS e RJ, cerca de 900 participantes, foram destinadas ao Centro de Formação da CNTI (Conf.Nacional dos Trabalhadores na Indústria), situada em Luziânia (GO). Depois que resolvemos ir, parte de outras delegações - ES, BA, AM, e avulsas - decidiram ocupar os lugares deixados.

     Ninguém gostou da distância, mas os segmentos das "barbies/peruas" das delegações, como também o dos partidos de oposição ao governo, sobretudo o paulista (claro!) começaram a espalhar o terrorismo, dizendo que o local era perigoso, que não se poderia deixar o computador, que havia lama e bichos. A reação das militantes - acostumadas a improvisar alojamento nas lutas - foi imediata, a criação de palavras de ordem tentava abafar o alarido das revoltadas, que ameaçaram ir à justiça, retirar-se da conferência, não poupando nem a Presidenta Dilma, na única conferência deste ano em que fez presença.


"hotel de luxo é prá turista a nossa causa é feminista!"

     Aconteceu, segundo as explicações da SPM, que a empresa vencedora da licitação para a organização física da conferência, abandonou o trabalho dias antes da sua realização, derrubando os hotéis que haviam sido reservados, e hotéis continuavam a ser buscados pela equipe do governo até a noite de abertura da conferência, com pouco sucesso. Partes de algumas delegações, sobretudo as representantes governamentais, como as de SP, dirigentes de partidos e organizações sindicais, saíram em busca de melhor hospedagem, utilizando recursos que a maioria não tem.

     Assim, a CNTI acabou hospedando apenas 600 mulheres, sendo que a maior delegação, a paulista (344), foi a que menos ocupou os quartos na sede para trabalhadores. Em compensação, foi agradável a surpresa quando encontramos um lugar muito bom, com uma estrutura de clube de campo, quartos confortáveis, bom café da manhã. E a convivência entre as mulheres, que rendeu até uma baita festa, com churrasco organizado pelas gaúchas, que botou muitas prá dançar na noite de quarta-feira, véspera do último dia da conferência. O preconceito contra a classe trabalhadora, seus espaços e suas causas, começava a manifestar-se ali.


Contra a hipocrisia, pela legalização do aborto

     Entretanto, o tema de maior disputa na plenária foi - uma vez mais - a legalização do aborto, questão central na luta por autonomia para as mulheres. Boa parte das delegadas, inconformada com o "consenso" construído pela relatoria, e o não debate do tema pela plenária, foi mobilizando uma indignação manifestante, que obrigou a mesa a retomar a questão no final dos trabalhos. Embora a formulação das propostas, a junção de tudo o que saiu nos grupos, tenha sido feliz na maioria dos temas, incluindo este, não poderíamos aceitar a proposta sem colocar claramente a reivindicação de "legalização" do direito ao aborto, conquista muito cara das feministas em alguns partidos e movimentos, e necessária para acabar com a hipocrisia reinante, que permite a quem tem boa condição econômica realizar abortos seguros.

     Um racha no movimento feminista brasileiro parecia estar prestes a acontecer, enquanto a pauta seguia com outros assuntos. Rodas de discussão paralelas se formavam e cresciam... Ao final das votações das propostas de todos os temas, a mesa acatou os fortes pedidos de voltar ao assunto. Acontece que houve um acordo entre as maiores e tradicionais organizações feministas e componentes da SPM e da relatoria sobre a questão, com base também na moção que circulou a favor da reivindicação. O texto estava muito bom, mas a escolha de não promover o debate e votação pela legalização deixou alguns GTs, que a aprovaram, insatisfeitos, assim como muitas das ativistas que haviam circulado a moção e apostavam na sua aprovação. Católicas pelo Direito de Decidir e a Liga Brasileira de Lésbicas solicitaram que a questão fosse a voto, como ocorreu em outras reivindicações onde havia divergência.


Painel sobre Autonomia

     Vera Soares, que participou da relatoria, defendeu a posição pela descriminalização, lembrando o quanto este tema foi polêmico na campanha da presidenta Dilma, e que "construir um texto de consenso foi o caminho escolhido". Naiara Malavolta, da LBL e da MMM do RS, defendeu a legalização; a plenária estava toda ouriçada, boa parte se manifestava perto da mesa. A posição contrária veio lá do fundão calado, defendida por uma delegada que portava aquela figura de um "bebezinho", utilizada há muito tempo pelos fundamentalistas para pregarem contra o direito para todas as mulheres. Ganhamos, e a legalização foi incluída na formulação da proposta que deverá ir para o novo plano de políticas públicas. Foi um dos momentos mais emocionantes da Conferência, pela vitória dos movimentos, que precisavam daquilo.


Cultura e comunicação: estratégicas ou transversais?


GT Educação, cultura e comunicação

     Ativistas de outros eixos do plano vigente também se sentiram prejudicadas, sobretudo do 8 - Cultura, Comunicação e Mídia Igualitárias, democráticas e não discriminatórias - ainda que possa também ser trabalhado transversalmente. A politização do tema, a importância da incidência na educação e na formação de valores, a dúvida em relação ao que veicula a radiodifusão comercial (concessões públicas!), o que se entende por cultura, infelizmente, assuntos ainda não popularizados, com necessidade de muita formação. Nesta conjuntura nacional, a luta por um novo marco regulatório das comunicações, que coloque limites na propaganda ideológica permanente a que estamos submetidos dentro de nossas casas, tornou-se estratégica e urgente. O assunto foi tema de uma roda de conversa, a cargo de Rachel Moreno (Observatório da Mulher) e Fátima Jordão (Instituto Patrícia Galvão).


"Tô de olho"...

     A autonomia cultural foi o tema 2 do segundo dia de debates, juntando o eixo 8 com o 2 - educação inclusiva, não sexista, não racista e não lesbofóbica. Como sempre acontece nesta junção, a educação acaba ocupando mais tempo nos debates, pois é grande a presença de servidoras na área, como também de educadoras e ativistas. Aliás, aqui existiam alguns educadores (sexo masculino) como delegados. A discussão sobre a dominação cultural exercida, opressora da autonomia e da liberdade, e disseminadora de preconceitos e de doenças de todos os tipos, nunca é feita. O papel da comunicação de massas na difusão dos valores que sustentam a dominação, também não. E é assunto priorizado por poucas mulheres. Rachel Moreno tentou, na plenária, reabrir a discussão, colocando a necessidade das propostas do Eixo 8 e da Plataforma de Beijin no tocante a este tema, terem implementação imediata; também destacou a proposta de introdução nos currículos escolares de leitura crítica da mídia, pois sabia de sua aprovação em alguns grupos. Mas as propostas tiveram aprovação apenas em dois grupos, por isso não foram para debate na plenária. Uma pena.

     Outros assuntos importantes, sobretudo para a formação das mulheres, foram temas das rodas de conversa simultâneas: pensar políticas para a pluralidade, historia das desigualdades entre mulheres e homens, as políticas e as diferenças de geração, experiências da gestão pública, orçamento para políticas para as mulheres, um olhar internacional, mulher e participação política. Acontece que elas eram simultâneas também com o horário do almoço!!! E as filas para almoçar, o trânsito difícil entre as mesas, escovar os dentes, levavam mais que uma hora! Fora a exposição e venda de artesanatos e outras coisas interessantes que foi organizado desde os Estados, e nos quais muitas mulheres esperavam encontrar seus presentes de fim de ano. E as filas nos stands dos patrocinadores para receber as lembranças. Além de tudo isso, as organizações nacionais do movimento, de segmentos, apresentações culturais, lançamentos de livros e campanhas, chamavam também para o intervalo do almoço... Uma rica mostra da enorme diversidade que compõe nossas mulheres, mas estressante como uma múltipla jornada de trabalho!


A política e as mulheres

    E frustrante quando a gente engole a comida, perde um pedaço de alguma outra coisa para ver aquela conversa que te interessa e, chega lá, foi cancelada! Aconteceu comigo e tantas outras, em relação à roda de conversa "Mulher e Participação Política", com as deputadas Janete Pietá, Benedita da Silva, Luciana Santos e Luiza Erundina, e com as senadoras Lídice da Mata e Ana Rita. Assunto dos mais importantes às vésperas de um ano eleitoral, num país com um dos piores índices de participação política da mulher, mas o Itamaraty convocou as parlamentares - parece que para acompanhar a delegação estrangeira.

     O destaque foi Michelle Bachelet, que fez uma conferência muito concorrida no final do segundo dia de debates. Como sempre, homens e instituições aproveitando e usando o tempo das mulheres. Não poderiam ter previsto horários distintos para as duas coisas? A delegação estrangeira, apresentada no encontro com a Secretária Geral Adjunta da ONU e Diretora Executiva da ONU Mulheres, era bem significativa, composta por representantes de organismos de mulheres em seus países, ou representantes de embaixadas no Brasil - Chile, Peru, El Salvador, Uruguai, Venezuela, Timor Leste, Coréia do Sul, Espanha, Grécia, EUA.



Alegria e prazer ao fim e ao cabo

     Talvez o período mais emocionante e emocionado de toda a conferência tenha sido o show de Zélia Duncan. Além de ter uma legião de fãs entre as feministas, ela escolheu o repertório a dedo. Cantou Pagu (música feita com Rita Lee), Raul e Cássia Eller, além de suas melhores e conhecidas músicas, que transformaram a plenária num grande coro dançante... No dia seguinte, foi a vez da moçada cair no samba, com o show do grupo de Brasília, SaiaBamba. As Blogueiras Feministas participaram da cobertura da 3ª Conferência, leia os artigos no blog. A Abraço (Associação nacional das rádios comunitárias), instalou no espaço a "Abraço no Ar", realizando seguidas entrevistas e reportagens que podem ser ouvidas no site.

     Com tudo, e por tudo, foi realmente uma histórica conferência nacional de mulheres! Cujo resultado é sem dúvida positivo. Com certeza, nas listas de reivindicações estão as demandas mais sentidas pelas mulheres deste Brasil em ebulição, mas a maioria não sabe disto. Para construir as propostas, na prática, em muitas cidades e em alguns dos estados mais importantes, estão mulheres reacionárias, conservadoras, que conquistam espaços doados pelos homens, em governos afinados com os valores da elite racista, machista e capitalista, detentora dos verdadeiros poderes em nosso país.

     Precisamos urgente ter liberdade de expressão para todos e todas, ter uma comissão da verdade inteira, superando de vez a opressão da ditadura que fez calar as milhares e diferentes vozes que compõe o nosso povo. Só quando pudermos ouvir com a mesma força, e espaço público correspondente, os milhões de brasileiras e brasileiros ainda hoje sem voz, começaremos a desenvolver nossa democracia. Precisamos concretamente romper com a propaganda ideológica que nos controla, induzindo, a nós e a nossas crianças, ao consumismo, à banalização da violência, do sexo, ao descarte rápido das coisas e das pessoas, ao levar "vantagem em tudo", ao individualismo.

     Precisamos cuidar para que a maior participação da mulher, sobretudo na política, cantada atualmente em verso e prosa, na televisão e no carnaval, não seja objeto de mais uma apropriação e deturpação indevida da causa feminista. Queremos apenas transformar o mundo, salvar o planeta e a vida, para que toda a humanidade tenha autonomia e liberdade, desfrute do bem viver e da possibilidade de criar...

Ver online : Veja site e blog da Conferencia



quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Esquerda Popular e Socialista é a nova tendência nacional do PT


     Nova corrente do PT foi fundada em congresso, neste final de semana, na Escola Florestan Fernandes do MST, em Guararema.

Por Esquerda Popular e Socialista - Terça-feira, 6 de dezembro de 2011


     “Agora, agora é pra valer, Esquerda Popular Socialista do PT”. Com o grito de ordem encerrou-se no domingo, 4 de dezembro, na Escola Nacional Florestan Fernandes, do MST, o Congresso Nacional de Fundação da Esquerda Popular e Socialista, a nova tendência nacional do Partido dos Trabalhadores. A Esquerda Popular e Socialista nasce com musculatura política e social e está organizada em 18 Estados brasileiros, fortemente vinculada com os movimentos sociais. A abertura do Congresso Nacional de Fundação da Esquerda Popular e Socialista aconteceu no dia 2, na sede do PT Nacional, em São Paulo, e contou com a presença de lideranças de outras tendências petistas e de movimentos sociais brasileiros. Nos dois dias seguintes, as atividades ficaram concentradas na Escola Florestan Fernandes.

     De caráter socialista e com referência filosófica no marxismo, a nova EPS aglutina correntes nacionais e regionais à esquerda do partido, e tem como compromisso disputar os rumos do PT para que ele se estabeleça como um partido capaz de aprofundar e radicalizar a disputa pela reformas estruturais na perspectiva democrática e popular, defendendo o governo Dilma e aprofundando as reformas iniciadas nos dois mandatos de Lula.

     “A fundação da tendência Esquerda Popular e Socialista representa a possibilidade da realização de um debate capaz de incorporar novos atores e atrizes sociais com uma nova pauta, para que o PT seja o lugar dos lutadores e das lutadoras do povo,” afirma Angélica Fernandes, direção nacional da Esquerda Popular e Socialista e do diretório estadual do PT-SP. Segundo Angélica, a EPS incorpora pautas como o feminismo, a igualdade racial e o combate à homofobia como temas centrais junto à exploração de classe. “A participação positiva dos militantes durante todo o Congresso nos dá certeza de que seremos exitosos na tarefa que nos propomos realizar” conclui otimista.

     Para Renata Rossi, do Diretório Nacional do PT e da direção nacional da nova tendência, “os desafios são construir uma política partidária que tenha como elemento central o diálogo com os movimentos sociais e constituir uma política que aponte o socialismo como horizonte estratégico, reafirmando a centralidade da luta dos trabalhadores e das trabalhadoras, que consiga converter nossa força social em força partidária e que aponte o papel da institucionalidade como instrumento capaz de aprofundar a construção de uma sociedade mais justa, sem exploração e opressão de gênero e racial”.

Movimentos sociais


     João Paulo, dirigente do MST, afirmou que o movimento terá uma relação prioritária com a Esquerda Popular e Socialista e, num gesto de aproximação, entregou oficialmente uma bandeira do MST à nova tendência. Presente na abertura do congresso, o deputado federal e líder da bancada do PT na Câmara, Paulo Teixeira, da corrente Garantia de Luta, disse concordar com os dez pontos programáticos apresentados pela nova tendência. Para Teixeira, “a articulação entre a luta partidária e os movimentos sociais é um ponto extremamente importante para o PT.” O também deputado federal Arlindo Chinaglia, do Movimento PT, saudou a disposição da criação da nova corrente num momento em que, segundo o deputado, “a maioria está aderindo ao campo majoritário”. Arlindo ressaltou que a luta dos integrantes da nova tendência será árdua, mas necessária e importante.

     Segundo o deputado estadual Mauro Rubem (GO), da direção nacional da nova tendência, a Esquerda Popular e Socialista cumpre papel fundamental de trazer para o PT o acúmulo de todas as lutas dos movimentos sociais e sindicais do país. “O desafio é retomar essa centralidade do PT, na qual a presença da luta é o critério da verdade. Os lutadores e lutadoras que querem transformar o Brasil têm que ver no PT o instrumento que deve estar presente na luta do povo. A nossa tendência cria essa ferramenta dentro do partido”, afirma o parlamentar de Goiás.

     Também presente na abertura do Congresso, Ricardo Gebrin, da Consulta Popular, afirmou ver com bons olhos o movimento da nova tendência que retoma os conceitos do Encontro do PT de 1987 e remonta o debate do programa democrático e popular. Gebrin afirmou que a Consulta Popular irá trabalhar junto com a nova tendência, respeitando a autonomia de cada um.

Desafios do PT

     Na mesa sobre os desafios de organização do PT, as eleições municipais de 2012 foram apontadas como uma das importantes tarefas da nova tendência que tem como prioridade ampliar a representação nos espaços institucionais. O deputado federal pela Bahia, Valmir Assunção, avaliou ser possível e eleição de muitos vereadores e prefeitos em todo o Brasil vinculados à EPS. Para ele, uma das preocupações centrais é equacionar o fato de o PT estar cada vez mais na institucionalidade, sem deixar de fortalecer os movimentos sociais e o projeto socialista. “O acúmulo que temos nos parlamentos, executivos, movimentos e militância torna possível elegermos um bom número de vereadores e prefeitos, para que eles possam levar as experiências do PT para mudar a vida e a cultura do povo”, analisa Valmir Assunção.


Direção e calendário

     O Congresso de Fundação da Esquerda Popular e Socialista encerrou-se no domingo, 4 de dezembro, com a aprovação do nome da nova tendência, do regimento interno e com a eleição da direção que coordenará os trabalhos no próximo período.

     A direção nacional da Esquerda Popular e Socialista foi composta paritariamente por 34 mulheres e homens e conta com mais de 20% de jovens e de negros e negras. Na direção executiva nacional estão Renata Rossi, Angélica Fernandes, Julia Feitosa, Luciana Mandeli e Mauro Rubem, Ivan Alex, Shakespeare Martins e Valmir Assunção.

A Esquerda popular e socialista pretende ser uma tendência que:

1. Dispute decisivamente os rumos do PT;

2. Estabeleça relações orgânicas com os movimentos sociais, do campo e da cidade, priorizando sua atuação nas lutas de massa;

3. Tenha o socialismo como objetivo estratégico;

4. Tenha o feminismo e o combate ao racismo como princípios fundantes;

5. Convoque o movimento sindical e popular, os militantes da CUT, o conjunto dos lutadores sociais para se incorporar ao PT e a disputa dos seus rumos;

6. Priorize os diversos movimentos e pautas da juventude, os direitos humanos, a defesa da laicidade do Estado, o combate à intolerância religiosa, a luta contra a homofobia, a defesa dos povos indígenas e comunidades tradicionais, a luta anti-proibicionista, a luta pela democratização dos meios de comunicação e pelo direito à cultura;

7. Reivindique centralidade para a reforma urbana, para a luta ambiental e por um novo modelo de desenvolvimento, baseado na sustentabilidade;

8. Defenda a reforma agrária, agricultura familiar, a demarcação das terras indígenas, o reconhecimento das terras quilombolas e dos atingidos por barragens;

9. Busque uma atuação institucional que promova esses objetivos estratégicos, Fortalecendo o governo Dilma, na perspectiva de aprofundamento das conquistas sociais do povo brasileiro;

10. Priorize o debate e formação política permanente da sua militância.