Binho Zavaski*
A atual estrutura do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) reafirma a importância estratégica e a visão de longo prazo que o atual governo possui para este setor. Em um país em que governos anteriores viraram as costas, literalmente, para a grande riqueza que vem de nossas águas, a criação da então Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca além de reafirmar o compromisso assumido pelo presidente Lula durante a campanha, marca o início da construção efetiva de políticas públicas para o setor.
A análise da evolução orçamentária nos oito anos de governo, por exemplo, evidencia a importância dada pelo governo a todo o setor pesqueiro. O orçamento de R$ 11 milhões em 2003 evolui para R$ 905 milhões em 2010.
De 2003 a 2010, o governo realizou três conferências nacionais e três estaduais em cada estado do Brasil. Estas conferências mobilizaram mais de 80 mil pessoas. Os programas e as ações em curso atualmente foram frutos das discussões e da construção coletiva durante este período, culminando em 2009 com a 3ª Conferencia Nacional de Aqüicultura e Pesca, com mais de 2 mil delegados e com o tema da Consolidação de Uma Política de Estado para a Pesca e Aqüicultura.
Como resultado da participação popular e dos programas e ações desenvolvidas pela então Seap, em 2008 foi lançado o “Mais Pesca e Aquicultura”. O plano foi um marco institucional para as políticas voltadas ao setor. Depois de décadas, um plano nacional de desenvolvimento econômico e sustentável tanto para a pesca quanto para a aquicultura. As ações previstas são no sentido de reduzir a pobreza, combater a exclusão social e diminuir as desigualdades sociais e regionais.
Para que o setor da pesca e aquicultura pudesse contar a continuidade dessas políticas, o governo federal empenhou-se para constituir uma legislação e um instrumento perene no Estado brasileiro.
Em 2009, fruto de uma grande articulação política, foi sancionada a nova Lei da pesca e Aquicultura – aprovada depois de mais de 15 anos de discussão no Congresso Nacional; e de mais de 40 anos da lei anterior – que passa a considerar os pescadores e aquicultores como produtores rurais, com ampliação de direitos ao acesso a créditos rurais e a recursos mais baratos para financiar sua produção. A lei reconhece como trabalhadores da pesca aqueles que não trabalham diretamente com a extração, mas que estão no apoio a toda cadeia produtiva, como redeiros, carpinteinos, descascadeiras, filetadores e tantas outras profissões que estavam descobertas. Com a nova lei, passam a contar com o apoio previdenciário e legal. A Lei da Pesca conta também com um capítulo exclusivo sobre a aquicultura.
Diante da necessidade de construir uma estrutura capaz de responder às demandas do setor de aquicultura e pesca, suas interfaces, nuances e diferenças, e com a necessidade de adaptar esta estrutura a um modelo de gestão ágil, eficaz e que fosse capaz de dar respostas mais rápidas, é que foi pensada a lei que cria o Ministério da Pesca e Aqüicultura. Depois de idas e vindas, da publicação de uma medida provisória e de sua revogação, finalmente, em junho de 2009, é aprovado por consenso no Congresso Nacional a criação do MPA.
O novo Ministério é fruto de uma grande mobilização do governo e de setores da sociedade por meio do parlamento e de seus representantes, de longas e duras discussões, de debates de diversas posições ideológicas, bandeiras partidárias e mesmo de interesses difusos, que viam no processo a possibilidade de uma consolidação institucional e de uma política de Estado de longo prazo, sem as constantes mudanças, instabilidades e fragilidades institucionais de governos anteriores.
Esta nova instituição teve seu modelo baseado em cinco pilares estruturais: planejamento, ordenamento, gestão, monitoramento e controle, agrupando em um único órgão competências que estavam espalhadas por diversos ministérios.
O Ministério foi criado com quatro secretarias nacionais. Duas responsáveis pelo planejamento e ordenamento das atividades de aqüicultura e pesca, sendo uma da aquicultura – entendendo esta como atividade zootécnica, de produção agropecuária, ou seja, que depende do homem e da atividade antrópica para poder produzir; e outra de pesca – entendendo esta como uma atividade extrativista que depende do homem somente na sua extração do meio ambiente.
Uma terceira, Secretaria de Monitoramento e Controle, capaz de, a partir do ordenamento das atividades, executar ações de regularização, acompanhamento, monitoramento das atividades e os exercícios profissionais da pesca e aquicultura. Por fim, a secretaria de fomento e infra-estrutura, dotada de programas e ações ligados às áreas finalísticas de fomento e desenvolvimento da pesca e da aquicultura, por meio de ações diretas como as obras de infra-estrutura da cadeia produtiva; e ações indiretas como as de apoio ao acesso do crédito, à assistência técnica e extensão pesqueira e aquícola, a pesquisa e a comercialização.
O setor pesqueiro atualmente no Brasil conta com mais de 800 mil pescadores e pescadoras, milhares de aquicultores e maricultores; e mais de 3,5 milhões de trabalhadores e trabalhadoras envolvidos diretamente e indiretamente.
*Binho Zavaski, engenheiro agrônomo, é militante do PT-DF
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Publicado por admin em 8 de fevereiro de 2010 (13:41) Em Artigos, Especial Pesca & Aquicultura